Você já ouviu falar na “nova infância“? Esses dias estava em uma livraria e me chamou a atenção quantos livros traziam este termo em destaque na capa, então achei interessante trazer um pouco sobre esse tema, unindo a psicologia e a tecnologia.
Nesse texto irei discorrer com um olhar mais técnico sobre o uso das telas por crianças, o lado bom e ruim desse acesso e como podemos equilibrar essa balança.
1. O QUE TEM DE NOVO NA INFÂNCIA

Vou te responder logo sobre este conceito da nova infância antes de começar a compartilhar alguns pensamentos:
A “NOVA INFÂNCIA” é a nova forma de organização da fase inicial da vida, visto que atualmente é marcada pela presença constante e de fácil acesso da tecnologia. A disponibilidade precoce a dispositivos digitais e à internet tem mudado as formas de interação, aprendizagem e desenvolvimento.
Além disso, a construção social da infância é pautada em concepções variadas entre diferentes culturas, sociedades e períodos da história, ou seja, aqui estamos falando de um olhar restrito a nossa concepção de antes e depois.
Um breve relato pessoal para apresentar a minha visão de mundo: nasci em 1997 e sou a caçula de 4 filhas. Desde pequena, sempre tive um computador em casa. Como morávamos em um bairro perigoso, meus pais me incentivaram mais a ficar em casa no computador do que ir brincar na rua. Eu sinto que vivi uma infância bem diferente dos outros da minha geração. Porém, mesmo com toda essa peculiaridade, é impossível comparar o meu acesso ao das crianças da geração Alpha.
Antes era restrito a alguns jogos simples ou programas educativos, hoje se expandiu para um universo ilimitado de informações, redes sociais e ferramentas interativas. A geração Alpha está crescendo em um mundo hiperconectado, onde a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas uma extensão de quem são e de como se relacionam com o mundo ao seu redor.
2. O FASCÍNIO DA TECNOLOGIA E O CÉREBRO

A resposta para o apego às telas está no nosso próprio cérebro: O sistema de recompensa, uma estrutura neurológica essencial para nossa sobrevivência, é acionado toda vez ao realizarmos algo prazeroso. E por as crianças ainda estarem em desenvolvimento, áreas importantes podem ser afetadas diretamente com o uso excessivo, como o córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões.
Um outro ponto relevante é o constante fluxo de estímulo promovido através do uso da internet, pois ele dispara a liberação de dopamina, neurotransmissor responsável também em nos motivar e a repetir comportamentos que trazem satisfação imediata. Quando, em excesso, somos estimulados iremos sobrecarregar o cérebro, criando um ciclo viciante que irá contribuir negativamente para a atenção, a concentração, a aprendizagem, a memória e a regulação emocional.
3. NEM TUDO SÃO ESPINHOS
Uma lição que o meu pai me passou foi: “A diferença entre veneno e remédio é a dosagem.”
Durante a pandemia de COVID-19, a internet desempenhou um papel vital na continuidade da educação formal. Plataformas permitiram a realização de aulas online, garantindo às crianças a continuação de seus estudos em segurança.
A internet democratizou o acesso a informações e conteúdos educacionais, facilitando não só o aprendizado de conteúdos escolares, mas permitindo às crianças explorarem diversos tópicos de maneira interativa e personalizada, potencializando o aprendizado e o interesse por diferentes áreas do conhecimento.
Ambientes imersivos e simuladores ajudam crianças com transtornos do espectro autista (TEA) a desenvolver habilidades sociais e de interação, em um ambiente controlado e seguro. Esses recursos permitem praticar situações cotidianas antes de enfrentá-las no mundo real.
4. ESTRATÉGIAS PARA EQUILIBRAR O USO DAS TELAS
A saúde mental pode ser preservada por meio de hábitos simples que regulam a exposição à tecnologia. Aqui estão algumas dicas práticas:
- Crie Momentos Offline: Estabeleça horários sem dispositivos, como durante as refeições ou antes de dormir.
- Atividades Físicas e Criativas: Incentive brincadeiras ao ar livre ou hobbies que não envolvam telas.
- Modelagem Positiva: Seja um exemplo para as crianças, limitando também o seu próprio uso de dispositivos.
- Use a Tecnologia a Seu Favor: Experimente apps de meditação ou atividades educativas que promovam o aprendizado sem sobrecarga.
5. CONCLUSÃO
A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas deve ser usada com moderação. Não acredito na demonização da ferramenta, pois tenho certeza que o futuro será tecnológico visto que o presente já é dominado por ela. Compreender como ela impacta nossa mente e implementar práticas saudáveis pode fazer toda a diferença no equilíbrio entre o digital e o real. Afinal, telas podem ser nossas aliadas, desde que saibamos usá-las como um complemento, e não como um substituto para as conexões e experiências humanas.
6. REFERÊNCIAS

Artigo do portal Educação Pública (CECIERJ):
CECIERJ. Concepção de infância: o que mudou?. Educação Pública, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/14/24/concepccedilatildeo-de-infacircncia-o-que-mudou?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 20 dez. 2024.
Livro eletrônico da Universidade do Minho:
UNIVERSIDADE DO MINHO. A infância e a contemporaneidade: debates e desafios. Braga: Universidade do Minho, 2020. Disponível em: https://ebooks.uminho.pt/index.php/uminho/catalog/download/36/113/1164?inline=1&utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 20 dez. 2024.
BELL, Victoria; WINTERHALTER, Sebastian. Digital literacy and its role in child development: A focus on the 21st-century skills. Journal of Educational Technology, v. 15, n. 4, p. 45-57, 2020.
HOLLOWAY, Donell; GREEN, Lelia; LIVINGSTONE, Sonia. The connected childhood: What makes a beneficial digital experience for kids? Oxford Internet Institute, 2019.
PEREIRA, Maria das Graças; SILVA, Carla. Tecnologia assistiva no processo de ensino-aprendizagem de crianças com necessidades especiais. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 25, n. 2, p. 201-217, 2019.
Pingback: Metas com Propósito: A Arte de Planejar Metas com Intenção - Amanda Calixta