ANSIEDADE SOCIAL – O “Friozinho” Na Barriga Que Te Congela!

Sabe aquela sensação que a gente fica quando estamos prestes a fazer uma apresentação em público ou quando vamos ser introduzidos em um novo grupo? Essa adrenalina em situações desconhecidas é algo natural do ser humano. O problema começa quando o medo surge e é tão intenso ao ponto de te congelar.

Vamos entender juntos o que é a ansiedade social, como a internet pode ser um aliado ou vilão nessa história e como a Terapia Cognitivo Comportamental pode te ajudar.

1. SOU TÍMIDO OU TENHO ANSIEDADE SOCIAL?

Deixa eu contar uma história minha que se tornou piada para a família inteira: Eu sou uma dama de honra em fuga!

Como assim? 

Então, desde pequena sempre fui muito tímida, mas meus pais achavam que eu conseguiria enfrentar esse medo para entrar como daminha em um casamento de um casal de amigos. Resultado? Entrei até metade da igreja, quando olhei para os lados, me apavorei e saí correndo da igreja (…) depois desse dia, também fugi do casamento da minha irmã mais velha, e dessa vez já tinha uns 13/14 anos.  

Trouxe essa história para exemplificar a diferença entre a timidez e a fobia e usá-la como base para explicar como consegui superar o medo dessa exposição, deixando a minha noiva mais tranquila para o dia do nosso casamento.  

Então vamos lá:

A timidez é um traço da personalidade ou um padrão comportamental caracterizado por desconforto, inibição ou nervosismo em situações sociais. A partir de uma combinação de fatores emocionais, cognitivos e comportamentais passamos a ter uma sensação de desconforto conectada com uma autocrítica exacerbada, o que nos leva a cada vez mais evitarmos estarmos expostos socialmente. 

Já a ansiedade social, também conhecida como fobia social, é caracterizada por um medo intenso e persistente perante a socialização em que o indivíduo possa ser avaliado, criticado ou humilhado, podendo impactar severamente a qualidade de vida. Pessoas com esse transtorno evitam interações sociais, reuniões ou apresentações, prejudicando relacionamentos pessoais e oportunidades profissionais. No lazer, podem sentir-se incapazes de participar de eventos, agravando o isolamento social.

Embora a timidez e a ansiedade social compartilhem características, a ansiedade social é mais intensa e interfere significativamente na funcionalidade do indivíduo, sendo considerada um transtorno psicológico descrito no DSM-5. Por outro lado, a timidez é mais moderada e não necessariamente leva a prejuízos graves na vida da pessoa.

Voltando ao meu exemplo, consigo te dizer que nesses dias vivi episódios ansiogénicos muito dolorosos aos quais me levaram ao limite e me fizeram – literalmente – fugir.  Me colocar diante da atenção de todos em um evento tão importante, não é e, arrisco dizer, que nunca será o melhor caminho para tratarmos a timidez e tão menos a ansiedade social.

2. VIVENDO NAS SOMBRAS DAS TELAS

No mundo hiperconectado em que vivemos, a internet desempenha um papel ambivalente, podendo tanto agravar quanto aliviar os sintomas desse transtorno. Por um lado, plataformas digitais oferecem oportunidades para interação em um ambiente controlado. Por outro, o uso excessivo ou inadequado dessas tecnologias pode piorar os sintomas.

As redes sociais exibem vidas aparentemente perfeitas e essa prática pode resultar em sentimentos de inadequação e baixa auto estima. O uso excessivo de filtros e efeitos nas redes sociais pode distorcer a percepção da própria imagem. A ausência de interações esperadas em publicações pode gerar frustração e sentimentos de rejeição, afetando negativamente a pessoa.

No mundo hiperconectado em que vivemos, a internet desempenha um papel ambivalente, podendo tanto agravar quanto aliviar os sintomas desse transtorno. Por um lado, plataformas digitais oferecem oportunidades para interação em um ambiente controlado. Por outro, o uso excessivo ou inadequado dessas tecnologias pode piorar os sintomas.

As redes sociais exibem vidas aparentemente perfeitas e essa prática pode resultar em sentimentos de inadequação e baixa auto estima. O uso excessivo de filtros e efeitos nas redes sociais pode distorcer a percepção da própria imagem. A ausência de interações esperadas em publicações pode gerar frustração e sentimentos de rejeição, afetando negativamente a pessoa.

Mas, em outra perspectiva pode ser positivo no enfrentamento: pessoas com ansiedade social podem se sentir mais confortáveis interagindo por meio de textos, e-mails ou avatares, onde têm mais controle sobre suas comunicações. Isso possibilita a conexão com outros indivíduos que compartilham das mesmas dificuldades. 

Para mim, o encantador é que podemos praticar em um ambiente menos ameaçador.  A internet pode ser usada como uma ferramenta de exposição inicial, como participar de discussões em fóruns ou jogar em uma plataforma online, antes de avançar para interações presenciais.

3. TORNANDO-SE UM VERDADEIRO “CARA DE PAU

Não foi da noite para o dia que eu parei de fugir dos eventos. Ser gamer me ajudou bastante no processo, porque gosto de jogar online e ir falando durante o jogo com várias pessoas diferentes, me auxiliou em aprender a conversar. Como puxar assunto? Quando é invasivo perguntar algo pessoal? O que fazer quando alguém entende errado o que disse? A gente descobre a resposta para essas perguntas praticando. 

Dentro da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), nós temos diversas técnicas que podem fazer a diferença no seu enfrentamento contra a timidez ou fobia social. O mais importante, pessoalmente falando, é a reestruturação cognitiva, tendo em vista que a partir dela será possível identificar e desafiar pensamentos automáticos negativos relacionados à interação social. 

Dentro da clínica, sou adepta do planejamento de tarefas comportamentais, ou seja, gosto de ensaiar com um paciente “tímido” uma interação social que o deixaria desconfortável. Após ele se sentir um pouco mais confortável, partimos para uma segunda etapa onde ele consiga iniciar uma conversa com um colega de trabalho ou pedir informação para um desconhecido na rua, por exemplo. Tudo sem muita pressa, levando o tempo que ele precisar. A ideia principal é que ele tenha uma exposição gradual da melhor forma possível.

Outro ponto importante é o treinamento de relaxamento e a atenção plena (Mindfulness). Juntos, são técnicas de respiração diafragmática levando ao  relaxamento muscular progressivo e dando o suporte para o sujeito lidar com o desconforto físico e mental engatilhados pelo medo. 

4. CONCLUSÃO

A ansiedade social é um desafio significativo, mas não intransponível. Compreender as causas e o impacto da internet nesse transtorno é o primeiro passo para lidar com ele. Ferramentas como a Terapia Cognitivo-Comportamental oferecem esperança para quem busca superar essas barreiras, proporcionando maior bem-estar e qualidade de vida.

Existem muitas outras técnicas que podemos utilizar para esse contexto, mas vou deixá-las para artigos futuros. Caso vocês queiram algum tema em específico ou que desenvolva mais sobre esse tema, deixe nos comentários. 

Permita-se dar pequenos passos para fora da zona de (des)conforto que a timidez e a fobia social te levam. Procure ajuda, você não está sozinho. 

Obrigada por ter chegado até aqui e TCHAUUU. 

5. REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Arlington: APA.

Anderson, P., & Rainie, L. (2022). Metaverse and Social Anxiety: A New Era. Pew Research Center.

Yee, N. (2006). “The Demographics, Motivations, and Derived Experiences of Users of Massively Multi-User Online Graphical Environments.” Presence: Teleoperators and Virtual Environments, 15(3), 309-329.

Przybylski, A. K., Weinstein, N., Murayama, K., Lynch, M. F., & Ryan, R. M. (2012). “The Ideal Self at Play: The Appeal of Video Games that Let You Be All You Can Be.” Psychological Science, 23(1), 69-76.

GADELHA, Maria José Nunes et al . Terapia Cognitivo-comportamental pela internet para o transtorno de ansiedade social: uma revisão sistemática. Rev. bras.ter. cogn.,  Rio de Janeiro ,  v. 17, n. 2, p. 96-104,  dez.  2021 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872021000200004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  06  jan.  2025.  https://doi.org/10.5935/1808-5687.20210022.

7 comentários em “ANSIEDADE SOCIAL – O “Friozinho” Na Barriga Que Te Congela!”

  1. O que fazer quando a gente conversa com uma pessoa online e ela super se abre, mas pessoalmente a pessoa parece outra, não fala nada, quando fala é só coisa básica e com muita timidez. Isso é frustrante, mas ao ler o artigo eu penso que talvez com paciência a pessoa melhore com o tempo. Porém nunca tive essa paciência, fica parecendo que a pessoa não foi sincera na conversa online.

    1. Provavelmente a pessoa consegue se expressar melhor pela internet porque se sente mais “protegida” do que quando está cara a cara. Pela internet, caso alguma coisa saia de controle, temos muitas possíbilidades para fugir daquela situação. Quando estamos presencialmente, estamos de cara limpa e o medo do julgamento pode ser difícil de ser superado por ela.
      Se vocês tem afinidades, invista na amizade. Talvez vocês possam conversar sobre isso e encontrarem juntas uma maneira para ela se sentir mais confiante.

  2. Pingback: PROCRASTINAÇÃO- Como Sair do "Deixar Para Depois"? - Amanda Calixta

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