While We Wait Here: Explorando Luto e Trauma com Psicologia e Jogos

Você já assistiu a um filme ou jogou um jogo que, ao final, deixou você sem entender o rumo que tudo tomou? Essa foi a sensação durante nossa live jogando While We Wait Here (Enquanto esperamos aqui – tradução livre), um jogo indie com uma atmosfera sombria e diálogos introspectivos. Nesse texto, vou compartilhar com vocês a minha percepção do jogo a partir da minha jogatina e dos meus estudos em psicologia.

1. UM POUCO SOBRE O JOGO E MINHAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES

“Troque ideias e comidas quentinhas com seus últimos clientes, enquanto vocês aguardam o fim do mundo” – STEAM

Procurando um jogo para jogar em live, encontrei esse game por um valor super acessível e com avaliações muito positivas. Acreditei que seria um excelente jogo para interagir com o público e, quem sabe, conseguiríamos tirar boas risadas de uma gameplay parecida com a de Overcooked. Nos primeiros momentos da live, percebi o quão profundo o jogo poderia nos levar.

While We Wait Here é ambientado em uma lanchonete à beira de um apocalipse. No papel de atendente, o jogador interage com clientes que trazem suas histórias, medos e reflexões. A ambientação bem construída e a mecânica do jogo reforçam a ideia de estar preso, tanto física quanto emocionalmente, uma metáfora poderosa para os sentimentos de luto e trauma.

A gestão do restaurante, em minha visão, simboliza o esforço para manter uma aparência de normalidade enquanto o mundo exterior desmorona. Essa dinâmica reflete o comportamento comum de pessoas enfrentando luto ou trauma, que muitas vezes tentam seguir em frente enquanto lidam com sentimentos intensos e, às vezes, avassaladores.

Mergulhando um pouco mais sobre o visual do jogo, também conseguimos tirar um alguns detalhes importantes:

a) O estilo gráfico que remete aos jogos da era do PlayStation 1, com uma estética low-poly e texturas de baixa resolução que evocam nostalgia.

b) O design da lanchonete, com tons escuros e iluminação difusa, evoca uma sensação de isolamento e introspecção. O vazio dos espaços e o silêncio ao redor simbolizam a desconexão emocional que essas experiências podem causar.

2. LUTO E TRAUMA: DIFERENÇAS E INTERSEÇÕES

“Todo trauma envolve luto, mas nem todo luto envolve trauma”

Essa, é uma daquelas frases que o professor da universidade lançou no início de uma aula, que ficou gravada na minha memória.  Aqui, faço questão de acrescentar que não existe verdade absoluta na sentença. Particularmente, prefiro: “Nem todo luto envolve trauma, mas muitos traumas carregam elementos de luto.”

Um resumão entre a diferença entre um e outro seria  que o luto surge especificamente da perda, enquanto o trauma pode resultar de diversas experiências, como acidentes, violência ou desastres naturais.

Tentando explicar de uma maneira mais técnica, seguirei pelo seguinte caminho:

O luto é uma resposta emocional natural à perda, geralmente saudável e autolimitante. Tende a seguir estágios reconhecidos, como negação, raiva, negociação, depressão e aceitação (modelo clássico de Kübler-Ross). No entanto, quando a perda é súbita ou violenta, o luto pode se entrelaçar com sintomas traumáticos.

O trauma, por outro lado, é uma reação intensa a eventos que ameaçam a segurança emocional ou física de uma pessoa. A resposta emocional a eventos profundamente angustiantes ou perturbadores que sobrecarregam a capacidade de enfrentamento do indivíduo. Mesmo quando não envolve morte, o trauma pode trazer sentimentos de luto, como a perda de segurança ou identidade e até mesmo as 5 etapas de Kübler-Ross.

Sintomas Comuns: Tanto no luto quanto no trauma, podem ocorrer sintomas como distúrbios do sono, alterações no apetite, dificuldades de concentração e sentimentos intensos de tristeza ou ansiedade.

Em While We Wait Here, essas fases aparecem de maneira sutil nos diálogos e interações dos personagens. Cada escolha no jogo reflete o impacto psicológico dessas emoções e como elas moldam o desfecho emocional.

3. TCC NO ENFRENTAMENTO DO LUTO E DO TRAUMA

Dentro da psicologia temos várias abordagens e vertentes diferentes. Todas podem nos ajudar de maneiras e em situações diferentes. Como possuo especialização em TCC, irei me limitar a falar do tratamento a partir desse olhar, tudo bem ?

De forma bem resumida, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) oferece abordagens eficazes que nos ajudam a lidar com esses momentos delicados:

-Psicoeducação: Ajuda a normalizar o processo de luto, reduzindo sentimentos de culpa e isolamento.

– Identificação de Crenças Disfuncionais: Reestrutura pensamentos automáticos negativos que dificultam o ajustamento emocional.

– Exposição Gradual: Facilita o enfrentamento seguro de memórias dolorosas.

– Regulação Emocional: Técnicas como a de mindfulness ajudam a manejar a dor e o estresse.

– Redefinição do Vínculo: Permite encontrar formas simbólicas de manter conexões sem prejudicar o ajuste emocional.

Essas técnicas são aplicáveis promovendo a reestruturação de pensamentos, a elaboração de emoções e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento que facilitam a recuperação e o bem-estar psicológico.

4. CONCLUSÃO

Jogos como While We Wait Here não apenas entretêm, mas também exploram questões psicológicas profundas, permitindo reflexões sobre luto, trauma e resiliência. Assim como na terapia, esses jogos nos convidam a explorar nossos sentimentos, escolhas e narrativas.

Se você também ficou intrigado com o simbolismo do jogo ou quer aprender mais sobre como a psicologia se conecta com o universo geek, compartilhe suas ideias nos comentários! Para aprofundar essas discussões, acompanhe nossos canais e não deixe de assistir a nossa analise no YouTube.

Obrigada por ter chegado até aqui! Até a próxima e TCHAAUU!